Na busca de uma educação solidária, aprendendo a mediar, dividindo conhecimento, ensinando com criatividade e fazendo novas amizades.
terça-feira, 29 de abril de 2008
Uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carta de condução. Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar. - "O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário. - "Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "Sou mãe." - "Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. 'Dona de casa' dá para isso", disse o funcionário friamente. Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante, do género 'oficial inquiridor'. - "Qual é a sua ocupação?" perguntou. Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora: - "Sou Pesquisadora Associada no Campo do Desenvolvimento Infantil e das Relações Humanas." A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial. - "Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exactamente nesse campo?" Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me a responder: - "Tenho um programa permanente de pesquisa (qualquer mãe o tem), em laboratório e no terreno (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Trabalho para os meus Mestres (toda a família), e já passei quatro provas (todas meninas). Claro que o trabalho é um dos mais exigentes da área das humanidades (alguma mulher discorda???) e frequentemente trabalho 14 horas por dia (para não dizer 24...). Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente me abriu a porta. Quando cheguei a casa, com o troféu da minha nova carreira erguido, fui cumprimentada pelas minhas assistentes de laboratório - de 13, 7 e 3 anos. Do andar de cima, pude ouvir a minha nova modelo experimental (uma bebé de seis meses) do programa de desenvolvimento infantil, testando uma nova tonalidade da voz. Senti-me triunfante! Tinha conseguido derrotar a burocracia! E fiquei no registo do departamento oficial como alguém mais diferenciado e indispensável à humanidade do que "uma simples mãe"! Maternidade... Que carreira gloriosa! Especialmente quando se tem um título na porta. Assim deviam fazer as avós: "Associada Sénior de Pesquisa no Terreno para o Desenvolvimento Infantil e de Relações Humanas" e as bisavós: "Executiva-associada Sénior de Pesquisa". Eu acho!!! E também acho que para as tias podia ser "Assistentes associadas de Pesquisa"
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